18 março 2010

A Woman left lonely

para indicar
É com muita honra que faço aqui minha primeira postagem-indicação-post. E que aceito o convite feito pela Lídia (obrigada querida!)  de fazer parceria nas escolhas das postagens. E para começar, trago aqui um post de uma mulher que escreve com a alma, posso dizer que fica difícil usar palavras para descrever, uma vez que sou fã incondicional e assumida da forma como escreve. Estou falando de Luciana P. autora de dois blogs maravilhosos > Afrodite para maiores e Meu Outro Blog. (que já indiquei aqui também em outro momento…)  Hoje indicarei um de seus posts, que ao ler levou-me a sentir cada sensação ali descrita. Pude ver cada imagem rodando meus pensamentos. Nada como você, ler para entender o que tento, mas palavra nenhuma poderia dizer. Está pronto para viajar numa ótima leitura? Então vamos lá


Leve o selo, querida é seu!se preferir o código esta na coluna




A Woman left lonely
Não me lembro das horas, acordei com um gosto saudoso na boca que me fez pensar por onde andavas. As coisas ficam meio turvas quando se perde o referente. É difícil alinhar os dias em meio a rupturas recentes, sobrepujar o que é e o que não pode ser. Saíste às seis daquele dia e até agora não lembraste de voltar. Veio-me então aquela frase em que tu dizias: "Dane-se: comigo sempre foi tudo ao contrário".
E nas horas que se seguiram, uma incômoda lembrança do teu sorriso foi-me levando para um tempo mágico e doloroso. Não foi fácil tentar recomeçar várias vezes, não é? Fingir que tecíamos um novo verão, uma outra maneira de sorrir e de olhar. Será que tudo foi em vão? Do que sobrou, bem lá fundo, ficaram somente mágoas e pensamentos ruins. O que tecemos, então? O que ainda está por vir?
Apesar de o meu caminho estar em sentido oposto ao teu, eu desejava tê-lo por perto, mesmo lembrando do quanto a tua ironia me irritava, e ainda me fazias crer que eu era uma companhia agradável para de vez em quando ouvir a chuva contigo. O problema é que não se pode cobrir com veludo a consciência. Ela pesa e mostra a realidade estampada no nariz. Não consegui fingir por mais tempo o meu silêncio e a falta de alegria. E se a dor era só minha, de que valeria falar, não é mesmo?
Acho que nem percebeste quando viajei e fiquei por dias sem ligar, nenhuma palavra por e-mail e sem dizer que sentia a tua falta, no fundo, desejando cobrir-me com o veludo que me sufocava. Mas era verão e o calor me impedia de esconder o corpo, o rosto, em panos pesados e monocromáticos. Sempre foste monocromático. Eu bem que desejei inventar uma realidade só para nós dois, um mundo paralelo, feito de momentos fictícios onde a única verdade seria a nossa descontração, mas não disseste nada. É como se o teu silêncio falasse por ti.
E eu esperei por tanto tempo que dormi e acordei várias vezes em pleno silêncio, exausta de ausência, torcendo por um rompante de loucura em te procurar e dizer que o escuro solitário me irritava. O que me impedia de fazê-lo? Eu sabia a tua resposta! Falarias da minha instabilidade, da inconsequência e da falta de simplicidade que tenho com a vida. Sempre me cobraste coerência e que eu fosse menos intangível. O intangível é que te irritava, eu sei.
Passei o dia rememorando alguns momentos que marcaram a tua presença, como naquele feriado chuvoso, era noite e tu chegaste de repente, fazendo-me sorrir e improvisar um jantar mesmo sem ter jeito nem vontade para essas coisas. Eu queria te perguntar se ias ficar por mais tempo, ou irias embora logo pela manhã, mas por ser intangível, optei por calar-me, deixando que o tempo ruim falasse por nós.
Choveu durante todo o feriado, e tu ficaste, e tu disseste que gostavas do meu jeito e das sandices inteligentes que eu falava. Mais tarde, bem mais tarde, antes de dormir, eu me lembro de ter dito que tu eras importante, mas nem sei se chegaste a ouvir porque o vinho roubou-te a consciência e dormiste ao meu lado tão satisfeito e pleno naquela noite intraduzível, que não ousei tocar nesse assunto de novo.
Por várias vezes, tive vontade de fechar o livro dessa história, esquecer o acaso que nos aproximou, pisar de novo pelas mesmas ruas sem lembrar que andamos juntos por ali, esquecer telefonemas inesperados, encontros, passeios, e até ouvir o blues A Woman left lonely que te traduzi no ouvido, ambos embalados pela véspera de Natal. Tentei esquecer os teus olhos, o jeito que paravas para me apreciar, balbuciando uma ou duas palavras que me enchiam de doces fantasias. Era tudo diferente e incômodo ao mesmo tempo.
Eu sempre queria esticar o tempo quando estávamos juntos, como se fosse uma coisa premonitória de que sentiria a tua falta depois que nossas mãos se afastassem. Mas o tempo passava, tu ias embora, e eu desligava o blues amargo, antigo e acre que me fazia derramar duas ou três lágrimas no interstício entre a noite e a madrugada iluminada pelos postes da cidade em silêncio.
Agora, depois de um tempo, voltaste. E eu te disse que não tinha certeza do que restara, mas tu aceitaste apenas ficar em silêncio, sem que nada se repetisse. Talvez teçamos outros recomeços e nem sei se estaremos próximos no próximo verão. Não sei até quando me contentarei com uma gota de néctar e nem se conseguirei adoçar o meu blues transformando-o em um poema de vanguarda. Tu és um poema de vanguarda.
A única coisa que peço é que me ouças desta vez antes de adormecer. As minhas últimas palavras serão que aceito a tua inconstância desde que não me cobres pelos fragmentos mais doces que perdi pelo caminho, e que leias o meu soneto em voz alta para não te esqueceres de que carrego comigo uma intangível, incoerente e penosa lucidez.
Luciana P. Meu outro Blog. (Clique para conhecer mais textos deliciosos)




Um comentário:

  1. Oi, Tyna, adorei ver o meu texto aqui também. Já fiz há um tempo, mas posso sentir cada momento que vivi enquanto o escrevia. É muito bom, de vez em quando, se entregar às emoções e deixar fluir tudo o que há de puro e de bom no coração. Beijos!!!

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Poxa... já que veio até aqui, não custa comentar né??

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